Quando soube que ” Doutor sono ” teria o seu filme e fui convidado para assisti-lo, pensei comigo: Vão estragar o seu antecessor Iluminado que já não era muita coisa, porém eu me surpreendi. O trabalho do diretor Mike Flanagan (diretor da série Maldição da Residência Hill ) foi recompensado com este filme – baseado no livro de Steven King de mesmo nome publicado em 2013 – que diga-se de passagem é maravilhoso com algumas ressalvas.
Antes de falar da construção do roteiro do filme, preciso falar da fotografia que nos remete ao Iluminado de 1980, aos efeitos visuais que não são carregados e nem por isso deixam a desejar,onde você consegue acreditar que é real e isso ajuda com a imersão daquele universo e com a direção de filmagem que simplesmente foi ousada e surpreendente. O diretor transita com a camera, hora o foco está em algo e a camera faz um giro lateral e retorna para o ponto anterior e isso deixa a cena misteriosa e bonita, certamente houve carinho e cuidado minucioso na direção de filmagem de modo que a imersão que eu disse fosse muito bem explorada em muitas cenas.
Confesso que o primeiro ato do filme é bastante arrastado, podendo sim ter economizado alguns minutos, mas isso não estraga a experiencia dele. Como todo inicio, temos as peças do tabuleiro sendo colocadas em jogo, temos o nosso protagonista Danny (Ewan McGregor), já adulto após 30 anos do trauma vivenciado no Hotel Overlook, onde seu pai realiza uma tentativa assassinato e por isso Danny deve lidar com os fantasmas do seu passado (literalmente), além dele temos a Rose The Hat (Rebbecca Ferguson) que está maravilhosa como vilã e Abra (Kyliegh Curran) que também está fabulosa em seu papel.
O segundo ato do filme mostramuito as motivações de Rose, que sequestra junto com um grupo de iluminados crianças com o mesmo dom e isso não é spoiler, o filme já começa com essa premissa. Durante este ato podemos perceber o desempenho de ambos os lados das pessoas que possuem o dom da Iluminação, existem pessoas boas, pessoas más e crianças que não possuem conhecimento dessa habilidade e o filme consegue trabalhar isso muito bem e expande este universo do “Iluminado “. O filme o tempo todo bebe da fonte do primeiro e “repara” acontecimentos decepcionantes do filme anterior e por isso já é uma vitória. Deste ato até o final do filme eu me empolgava muito e admirava o cuidado do diretor em homenagear os livros e ao mesmo tempo o seu antecessor cinematográfico. Acredito que o filme tenha distanciado do título proposto, uma vez que é muito pouco trabalhado o protagonista Danny como ” Doutor Sono ” e isso é uma pena, pois deixa o filme com pontas soltas que não foram resolvidas. Neste ato temos a personagem da Abra, que é uma pré adolescente que lida com o seu dom e essa atriz é simplesmente sensacional, mesmo a personagem tendo a idade que tem mostra maturidade ao lidar com o seu dom de Iluminação e possui uma das melhores cenas do filme que me fez vibrar na cadeira do cinema.
Se os fãs de Iluminado e até mesmo os que não assistiram o primeiro filme já estavam empolgados com o segundo ato, simplesmente ficaram vidrados com a conclusão do filme que nos remete a um ciclo nostalgico com cenas memoraveis e marcantes muito bem trabalhadas e cria novos elementos que podem muito bem ser utilizados em uma possível sequencia, uma vez que o diretor consegue acertar nessa expansão de universo e ao mesmo tempo finalizar este filme.
O elenco é afiado e possue muita sintonia, salvo personagens do grupo de Rose que com exceção de dois personagens que possuem certa relevancia para o roteiro, os demais são apenas figurantes que estão ali para encher tela.
Apesar de não explorar o seu título como deveria ” Doutor sono ” é ousado, possui sua pitada de suspense,terror, ação e até mesmo drama. Excede totalmente as expectativas e mesmo bebendo da fonte de seu antecessor consegue ter uma qualidade muito além dele. Simplesmente maravilhoso.